Ética nos Negócios—E se fizermos desse “jeitinho”?
Devemos fazer O CERTO não por conveniência ou egocentrismo, mas, simplesmente, porque é O CERTO a fazer.
Hoje iniciaremos uma sequência de dois posts sobre ética nos negócios. Neste primeiro, abordaremos, sucintamente, os três pilares sobre os quais se fundamenta a ética ocidental. No nosso próximo post (Ética nos Negócios—É legal, mas não é legal!), daqui a duas semanas, daremos continuidade ao tema respondendo às seguintes questões:
1 – O que é ética nos negócios?
2 – É legal e moral? Ah, tanto faz quanto tanto fez!
3 – Por que uma organização deve ser ética?
4 – O que acontece quando somos éticos?
Ao trabalho!
Tive uma experiência singular, no meu programa de mestrado, quando participei de uma turma com aproximadamente 60 alunos de 22 nacionalidades na disciplina Business Ethics na The University of Notre Dame – Australia. Foi simplesmente incrível discutir sobre ética nos negócios com colegas do Siri Lanka, Sibéria, Filipinas, Tailândia, Indonésia, Vietnã, Singapura; Estados Unidos; Inglaterra; França…, dentre tantas outras diferentes culturas. Obviamente, havia australianos na sala também. Poucos, mas havia. Foi muito intenso e, se eu já era apaixonado pelo assunto, fiquei absolutamente fascinado.
Há tempos que quero escrever sobre o tema por reconhecer a sua inquestionável importância para a vida, seja profissional ou pessoal, mas sempre sinto um friozinho na barriga quando penso que terei de condensar todas as minúcias que envolvem a disciplina no formato de posts; ou seja, poucas palavras. Não é uma tarefa fácil nem para os doutores no assunto, que dirá para um aprendiz assumido como eu. Mas atrevimento é uma postura que aprendi desde muito pequenininho. Além do mais, os últimos acontecimentos que envolvem nosso país me impulsionaram decisivamente a correr o risco. Então, vamos lá!
Os pilares da ética ocidental
Basicamente, a ética ocidental repousa sobre três pilares: O pensamento da filosofia, principalmente a aristotélica, aproximadamente 300 a.C., com a famosa regra de ouro; as obrigações morais de Immanuel Kant, no século XVIII e o utilitarismo ético preconizado principalmente por Jeremy Bentham e John Stuart Mill, séculos XVIII e XIX, respectivamente. Não vamos nos aprofundar em detalhes em cada linha de pensamento. Vamos somente dar uma noção genérica do princípio básico que rege cada uma delas.
Aristóteles e a Regra de Ouro
A famosa regra de ouro de Aristóteles, “não faça aos outros aquilo que você não gostaria que os outros fizessem a você”; preconiza aquilo que é virtuoso, como a justiça, a caridade e a generosidade. Para Aristóteles, quando as ações humanas fundamentam-se na virtude, o indivíduo e a sociedade como um todo se beneficiam e, portanto, é ético. Sendo assim, lançar uma bomba atômica sobre os outros, mesmo sendo os outros, considerados inimigos, ou mesmo sob o pretexto de fazê-los desistir e cessar o sofrimento da guerra; não é ético, sob o fundamento aristotélico da ética.
As Obrigações Morais de Immanuel Kant
Para Kant, a ética baseia-se na obrigação moral que temos uns para com os outros. Ele considera essa premissa como o fundamento que norteia uma sociedade ética. Por exemplo, se um amigo está hospitalizado, mesmo não sendo aquele “amigo de fé, irmão, camarada”; é uma obrigação moral visitá-lo no hospital. Para Kant, esta é uma postura ética. Dessa forma, lançar uma bomba atômica sobre uma nação que se “recusa” a assinar um tratado de paz; pode ser considerado uma obrigação moral com aqueles que sofrem as consequências de uma guerra. Da mesma forma, “não apertar o botão vermelho”, seria uma obrigação moral com aqueles que estão lá embaixo e não têm o poder de assinar o tratado de paz.
Neste caso, o que é ou não ético, vai depender de quem tem um botão vermelho para apertar e de quem está lá embaixo. Na minha humilde opinião, vejo a ética kantiana absolutamente parcial e conveniente. Visitar alguém no hospital por obrigação moral é conveniente para quem quer ficar bem na foto. É um pensamento muito individualista para ser considerado ético. Repito, na minha humilde opinião.
O Utilitarismo Ético
O terceiro pilar da ética ocidental é a teoria do utilitarismo ético. Talvez a mais democrática de todas. Ela preconiza o bem-estar e a felicidade do maior número de envolvidos na causa. As eleições dos estados democráticos de direito baseia-se neste princípio. Ou seja, a maioria leva e, supostamente, o resultado é para o bem-estar e benefício da grande maioria. Dessa forma, soltar uma bomba atômica sobre uma nação, matando mais de 200 mil pessoas e mutilando outras milhares para sempre, para cessar a guerra e poupar a vida de um número maior de pessoas; é ético.
Bem, se você chegou até aqui já pode perceber que não é tão simples se posicionar, de forma conclusiva, sobre alguns dilemas que envolvem uma conduta ética. Deve também ter entendido o meu friozinho na barriga. Somos desafiados todos os dias, nos negócios e na vida pessoal, a tomar decisões complicadas. Tomamos essas decisões, baseados nos nossos conceitos formativos construídos ao longo de nossas vidas. A corrente que utilizaremos para embasar nossos motivos para tomarmos determinadas decisões, baseia-se nesses conceitos formativos. Cada um, com seu cada um!
Na minha opinião pessoal, a ética deve estar acima de tudo. O benefício da maioria ou uma obrigação moral não pode ser o motivo de fazer aquilo que, de antemão, eu não acho que deva ser feito. Não vou, por exemplo, demitir um terço para salvaguardar o emprego de dois terços. Outra solução há que ser encontrada! Se começamos a viagem juntos, vamos juntos até ao final. Todos ou ninguém. Mas isso é a minha humilde opinião. Convido você a deixar a sua também! Vamos começar, quem sabe, um fórum de discussão sobre esse tema tão fascinante. Conto com sua participação.
Bons negócios e até lá!
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