Ética nos Negócios—É legal, mas não é legal!

Ética nos Negócios—É legal, mas não é legal!

Afinal, pode, mas não deve ser feito; ou deve ser feito, mas não pode?

Dando continuidade à nossa sequência de dois posts sobre ética nos negócios, para você que chegou agora, no primeiro falamos dos três pilares da ética ocidental, neste segundo, nos propomos a responder às seguintes perguntas:

1 – O que é ética nos negócios?

2 – É legal e moral? Ou tanto faz quanto tanto fez?

3 – Por que uma organização deve ser ética?

4 – O que acontece quando somos éticos?

Mãos à obra!

1 – O que é ética nos negócios?

Ética nos negócios é o conjunto de ações e diretrizes que orienta o comportamento do indivíduo e, consequentemente, da organização em direção àquilo que é considerado como o certo. Agimos eticamente, enquanto indivíduos ou organizações, quando tomamos decisões que consideramos ser as mais justas e corretas com base neste código de conduta.

Embora essas decisões sejam baseadas no arquétipo do meio sócio cultural em que estamos inseridos, nossos conceitos formativos, aquele jeitinho de ser que vem do berço, também exerce influência fundamental no processo de tomada de decisões éticas. Logo, algumas vezes, as decisões individuais andam na contramão daquilo que a cultura considera ético ou não. O famoso “cada um com seu cada um”.

Apesar da subjetividade embutida nos dilemas que envolvem decisões éticas, como vimos no post anterior, existem valores éticos absolutos para toda e qualquer sociedade. O que nós chamamos de universalidade ética. Dessa forma, “todos nós” concordamos que trabalho infantil não é ético (nem legal); espionagem e sabotagem industrial; suborno; propaganda enganosa, dentre tantos outros aspectos condenáveis pela ética universal; também não.

Portanto, discutir ética nos negócios, considerando os valores universais das sociedades, não é a maior dificuldade. Todavia, quando esbarramos em nuances da ética, como preservar o bem-estar da maioria em detrimento do sacrifício da minoria; a coisa se complica. Não dá para estabelecer um código cartesiano para a conduta ética; sendo assim, não cabe uma receitinha de bolo para nortear o comportamento ético. A não ser, obviamente, quando se trata da universalidade ética ou da famosa regra de ouro:

Não faça aos outros aquilo que você não gostaria que os outros fizessem a você

Faça aos outros aquilo que você gostaria que os outros fizessem a você

Este é o princípio da reciprocidade ética que se confunde com a regra de ouro de Aristóteles que, diga-se de passagem, vem de longas datas.  Jesus ensinou no seu célebre Sermão da Montanha:

“Tudo quanto, pois, quereis que os homens vos façam, assim fazei-o vós também a eles; porque esta é a Lei e os Profetas” Mateus 7:12

Sinceramente, baseando nossas ações nos preceitos da regra de ouro e da reciprocidade ética; não há como não fazer o certo diante das decisões difíceis da vida profissional e pessoal.

2 – É legal e moral? Ou tanto faz quanto tanto fez?

Todos nós sabemos que existe um conjunto de leis que rege a nossa sociedade. Enquanto indivíduo ou organização, conduzimos nossas ações com base nesse código legal. Ser um cumpridor da lei nos protege do sofrimento imposto pelas sansões por seu descumprimento, ao mesmo tempo em que nos protege daqueles que as descumpre. Mastigando bem mastigadinho, se eu descumpro a lei, eu pago por isso. Se eu sofro as consequências do descumprimento da lei por outrem, eu tenho o direito legal de recorrer em juízo pelo prejuízo consequente deste descumprimento. Esta é a função do código legal.

Entretanto, cumprir o código legal na integra nem sempre é ético, principalmente, com base na regra de ouro e no princípio da reciprocidade ética. O nosso parlamento é um exemplo contundente; ou seja, fazer parte de um seleto grupo de indivíduos que são julgados por um foro especial, quando infringem a lei, enquanto os outros não são; é legal, mas é moral e ético? Da mesma forma, receber auxílio moradia, quando o salário é mais do que suficiente para as despesas de moradia e tantas outras verbas, auxílios e privilégios que os parlamentares do nosso país recebem, os quais estão previsto em lei, portanto é legal; obviamente, não é moral nem ético.

Em resumo, não devemos confundir o que é legal com o que é moral. Não é ético esconder-se atrás da legislação para tomar decisões e ações antiéticas. É confortável, para alguns, mas não é pretexto para atos imorais e antiéticos. Na minha humilde opinião, a lei tem que ser cumprida, mas a conveniência da lei não é moral nem, tampouco, ético.

3 – Por que uma organização deve ser ética?

Acima de tudo, pelo fato de que devemos fazer o certo, porque isso é o certo a ser feito! A lei do retorno não é aplicável, no meu entender, numa conduta ética. Não se trata do toma lá dá cá. Algumas vezes, ser ético nos negócios pode se caracterizar em prejuízo econômico, mas ser e agir eticamente; deve estar acima disso. Quando a AOL reconheceu publicamente que havia cometido um erro estratégico, em 1997, sua conduta foi ética e custou muito caro. Steve Case assumiu publicamente que sua organização, a AOL, havia cometido um grave erro quando superestimou sua capacidade de atendimento dizendo:

“eu reconheço que falhamos. Nós pensamos que tínhamos uma boa capacidade de alcance quando fizemos nossas projeções, mas nós estávamos errados. Nós assumimos um compromisso com os nossos clientes e nós iremos cumprir com o nosso compromisso, mas isso levará um tempo” (Wheelen & Hunger 2000, p.7).

Com esta afirmação ele entregou, de bandeja, a possibilidade de uma ação conjunta que lhe custaria milhões de dólares! o que de fato aconteceu. Mas, sem dúvida, foi uma decisão ética.

Por outro lado, não resta dúvida que ser ético traz também benefícios econômicos, apesar de não dever ser este o pretexto de nossas ações. Cair na simpatia da opinião pública por tomarmos decisões éticas, como a de Steve Case, pode trazer benefícios econômicos, a médio, longo prazo, incalculáveis, mas não deve ser o motivo de nossas ações, mas sim a consequência das nossas ações.

4 – O que acontece quando somos éticos?

Acima de tudo, enquanto organizações ou indivíduos, a conduta ética nos faz sentir cumpridores do nosso papel de socialmente responsáveis diante da sociedade em que estamos inseridos. Esta conduta traz, para a grande maioria dos indivíduos, aquela sensação gostosa de dever cumprido. Isso eleva a autoestima e fortalece a autoimagem. Sentimo-nos pertencentes de verdade à nossa sociedade e participantes de seu processo de evolução.

As organizações também têm um papel decisivo na construção das sociedades, sejam elas públicas ou privadas, de antigamente ou de agora. É inerente a toda e qualquer organização cumprir seu papel de socialmente responsável, simplesmente por ser essa uma de suas funções. Gerar empregos, impostos e benefícios à sociedade, através de produtos e serviços; é uma responsabilidade antes de ser um negócio. Conduzir suas ações nessas áreas eticamente é uma obrigação, não um luxo desnecessário ou, pior, uma estratégia de marketing.

Quando as organizações baseiam suas ações nos preceitos da ética, contribuem decisivamente para a construção e evolução das sociedades. Tal conduta traz como benefício o fortalecimento de uma imagem sólida perante o público consumidor, aumentando o seu valor econômico. Quando baseamos nossas ações na ética e na moral, ajudamos a construir nossa sociedade e a preservar sua evolução, além de nos beneficiarmos com isso.

2018-07-16T18:54:05-03:00 16 de julho, 2018|Resiliência Organizacional|0 Comentários

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